quinta-feira, 15 de julho de 2010

"SANTA" QUEIMA DE ARQUIVO


Um mal que assola a Igreja moderna



Estamos vivenciando uma geração de líderes espirituais insensíveis quanto aos princípios da Palavra de Deus.

Tenho a nítida impressão que esses, só consideram válidos os ditames da palavra sagrada, para os seus submissos ou subalternos, estando eles mesmos isentos de qualquer repreensão ou sanção divina.

Parece que seus corações estão enrijecidos e envoltos numa impermeabilizante couraça, a qual lhes tirou a sensibilidade espiritual. Conseguem driblar qualquer sentimento de culpa, apenas com o poder que a instituição lhes concedeu, ou seja, o da canetada.

Quem não concorda com o erro, combate tais atitudes e não bajula seus autores, logo é passado para trás, é colocado de escanteio, é tirado de qualquer evidência, e se possível for, é banido do sistema como uma verdadeira queima de arquivo.

Nessa linha de atitude eclesiástica, ministérios de jovens obreiros são ceifados precocemente, e os de homens já experientes são jogados na “lata do lixo” como se nada tivessem produzido para o Reino de Deus, somente pelo fato de terem discordado, e às vezes pela simples atitude de terem alertado sobre algum perigo produzido pela inobservância da Palavra de Deus, o que é perfeitamente compreensível, justo, coerente e correto.

Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano. Atos dos Apóstolos 6:1

Suponho que, se essa murmuração que ocorreu na igreja primitiva, motivada pela falta de assistência às mulheres dos gregos, acontecesse nos dias de hoje, jamais resultaria na instituição dos diáconos. Os apóstolos analisaram o motivo da falação e perceberam que era justa, que a crítica era construtiva e não destrutiva. Decidiram então orar, e o Espírito Santo lhes deu a direção. Por essa atitude é que temos hoje os diáconos na Igreja.

E os doze, convocando a multidão dos discípulos, disseram: Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; e os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos. E crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé. Atos 6: 2-7

Presumo que nos dias de hoje, isso resultaria em uma “santa queima de arquivo” dos que reclamaram. Seriam deixados de lado, destituídos de qualquer cargo, não mais cantariam, não mais pregariam em eventos importantes, afinal, esse é o molde atual, ou seja, o esvaziamento total daqueles que ousam apontar o erro, e olhe lá se ainda não os caluniassem, classificando-os como desafetos e “personas non gratas”, no afã de assim justificarem seus convenientes procedimentos. É por demais, triste e lamentável.

É preciso seriedade e sensibilidade na liderança da Igreja. Escrevo este texto no temor e com tremor em face da responsabilidade, mas é necessário que alguém se exponha, ainda que se coloque a si próprio debaixo e à mercê deste crivo.

Não foi à toa que Deus considerou Davi, um homem segundo o seu coração. O Senhor já sabia que Davi não era perfeito, muito menos um semideus, mas também sabia que ele estava disposto a reconhecer o seu erro e clamar pela misericórdia do Eterno, que tinha um coração sensível.

Quando o profeta Natã foi usado por Deus para a revelação do seu pecado, o pior já havia passado, afinal, Urias o heteu uma vez morto, deixou livre o caminho para o rei Davi se casar com a viúva Bate Seba, ou seja, crime perfeito e casamento senão legítimo, pelo menos legitimado.

Comparando com as atitudes que vemos nos dias atuais, a única “pedra no sapato” de Davi era o profeta Natã, o qual poderia muito bem ter sido descartado, colocado fora do páreo, e quem sabe até mesmo perdido a vida. Davi não o fez assim, mas disse: Eu pequei.

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia. Provérbios 28: 13

Tenho a impressão que se fosse agora, nos tempos da cibernética, seria mais viável a Davi matar Natã, se livrar do profeta e continuar pecando, e haja Natã para se matar. Não me refiro aqui à morte física através de espada e trabuco, mas a da moral, através das difamações, calúnias, infâmias e coisas do gênero. Se livrar do profeta é sempre mais fácil do que se arrepender e se consertar diante de Deus.

E por falar em Davi, não posso deixar de reconhecer que o Saul da Bíblia, em que pese estar perturbado por um espírito maligno, deixava se permitir ouvir a harpa de Davi, se não por respeitar ao jovem musicista, mas pelo menos para ficar livre da perturbação.

Nessa linha de raciocínio, creio que um Saul moderno não resistiria depender da unção de Deus na vida um “menino ousado” para ficar liberto. Seria mais fácil se desfazer dele, quem sabe enviá-lo para ser “missionário” onde o vento faz a curva, entre cobras e lagartos, ou até mesmo coisa pior! Misericórdia Senhor!

Analise em que situação estamos:

Na comparação dos Sauls de hoje com o da bíblia, conseguimos vislumbrar lampejos de humildade naquele que já estava rejeitado por Deus. E os de hoje então?

Algumas dessas vítimas são queimadas ministerialmente, porque foram consagrados precocemente, neófitos, não ensinados e muito menos pastoreados. Já outros, muito pelo contrário, porque revelaram ter uma chamada de Deus, trouxeram inquietação e se tornaram verdadeira "sombra" para seus líderes. Há ainda os casos, daqueles que souberam demais, viram demais e agora só matando-os, para que se vejam livres deles aqueles que estão incomodados. Que Deus tenha misericórdia e se cumpra em nós a profecia de Ezequiel:

E lhe darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei um coração de carne; Ezequiel 11: 19

Infelizmente, muitos pensam apenas em si mesmo e nos que lhe são afetos. Quanto aos demais, cuja presença lhes faz lembrarem-se do seu pecado e da consciência cauterizada, que sejam tirados e banidos do sistema a qualquer custo. Cumpre-se aqui o ditado popular: “os incomodados que se mudem”

Por isso, quantas igrejas, ministérios e até mesmo convenções surgem a cada dia, alguns casos por mero desespero e precipitação, porém outros, pela nevrálgica intolerância de líderes arrogantes e prepotentes que sabem que estão errados, mas insistem em não reconhecerem tal situação, pelo simples desejo humano de manterem seu status e a glória do poder terreno.

Muitos jovens obreiros ao verem esse tipo de atitude, caem na condenação do diabo e também querem ter o mesmo poder. Isso está fazendo escola na igreja moderna. Já ouvi frase do tipo: “prefiro ser cabeça de sardinha a ser cauda de baleia”.

Quando falo em escola, é porque a mania está em todos os lados, até mesmo em escalões inferiores da hierarquia ministerial. Hoje temos divisões e rebeliões até em grupos de música gospel.

Imaginemos, se todos quiserem liderar, não haverá mais liderados, mas isso é o resultado da síndrome luciferiana no meio do povo de Deus.

É até possível que eu seja criticado pela utilização do termo “Santa” queima de arquivo, mas é isso mesmo, entre aspas, porque de santa nada tem, mas assim é considerada para que se justifique em nome de Deus, a tirania dos corações.

Tudo que não é de Deus, mas em seu santo nome é feito, ganha ares de irreversibilidade, intocabilidade e não pode se mudar. Por causa disso, vemos vidas, casamentos e ministérios acabados, famílias derrotadas e muitos filhos que não podem nem ouvir falar em igreja, quando na realidade, a igreja de Cristo nada tem a ver com isso.

Essa mania de se acabar com os outros em nome de Deus e de triturar aqueles que se opõe ao erro, é a profanação do sagrado e a luciferização de um sistema que deveria ser divino.

O texto é forte, também doeu em mim, e eu que vigie e me conserte naquilo que estiver errado.

Que Ele cresça e eu diminua!

A Deus toda a glória!

Pr. Carlos Roberto Silva

Fonte: http://pointrhema.blogspot.com/2010/05/santa-queima-de-arquivo.html

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